segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Nossa Senhora da Soledade



Lançada ao mar, imagem milagrosamente salva.
A História prodigiosa de uma das mais antigas e veneradas invocações marianas da Venezuela comprova, a exemplo das maravilhas operadas pela Mãe de Deus em suas aparições ao cacique da tribo dos Coromotos, o amor e a proteção que Ela dedica àquela nação hispano-americana
Dom João del Corro e sua esposa, Dona Felipa de Ponte e Villena, haviam sobrevivido anos a fio a todos os desafios que faziam parte da vida quotidiana de um colono espanhol na Venezuela de 1650. Porém, agora Dona Felipa estava morrendo.


Ela morria ao dar à luz seu filho Francisco. Os escassos conhecimentos médicos da época, ainda mais numa remota região da costa do Mar do Caribe chamada Naiguatá, não alimentavam esperanças de que Dona Felipa pudesse sobreviver.


Promessa
Homem de fé, seu esposo não hesitou em recorrer à proteção da Santíssima Virgem. Prometeu que, se sua esposa e filho sobrevivessem, ele faria a doação de uma cópia da imagem de Nossa Senhora da Soledade -- que se encontra no Convento da Vitória, de Madri, Espanha -- para a igreja de São Francisco, de Caracas.


A Santíssima Virgem ouviu a oração confiante desse angustiado devoto e tanto a mãe quanto o filho sobreviveram. Restava agora o problema do cumprimento da promessa.


Em nossos dias seria fácil. Mas no século XVII as dificuldades de comunicação eram imensas. Na Venezuela colonial de então não havia quem pudesse fazer o trabalho. Poder-se-ia encomendar a imagem no México ou no Peru, onde floresciam escolas de escultura sacra. Mas uma disposição emanada de Madri proibia o comércio entre as colônias. Tudo devia ser pedido à Metrópole.


Foi por isso que só em 1653, ao partir uma nau para a Espanha, Dom João pediu ao seu comandante, Dom Sancho de Paredes, o favor de obter a almejada imagem.


Dom Sancho era amigo da família e o encargo que recebeu ilustra bem o relacionamento humano daquelas épocas de Fé e retidão.


Prometeu que, ao chegar à Espanha, mandaria executar a cópia da imagem pelo melhor escultor que conseguisse, bem como os trajes e ornamentos para revesti-la, tudo a fio de ouro e prata.
Só depois de retornar ele lhe apresentaria a conta, que Dom João assumiu o compromisso de pagar, mesmo que para isso tivesse que vender todo o seu patrimônio, que consistia numa esplêndida fazenda, situada em larga faixa de terra, das montanhas até o mar.


Tal contrato, que a atualmente soa como algo incompreensível, tomou-o Dom Sancho com toda naturalidade. Assim, quase um ano depois, retorna da Espanha em direção ao porto de La Guaira, próximo à fazenda Naiguatá, de propriedade de Dom João. A imagem, com seus ornamentos, foi acondicionada numa grande caixa. E a conta a ser paga não era pequena!


Tragédia: a imagem é atirada ao mar!
A navegação corria normalmente até que, no mar do Caribe, seu navio, o São Fernando, depara-se com um furacão. A um leitor brasileiro é difícil imaginar o que possa ser uma borrasca marítima naquela região, ademais tratando-se de uma precária embarcação de madeira daquela época.


Em plena noite, em meio aos vagalhões, marinheiros desdobram-se por toda parte para manter o navio flutuando. De seu posto de comando, Dom Sancho tudo coordena. Mas vê-se obrigado, em certo momento, a mandar jogar ao mar parte da carga, pois do contrário a nau afundaria.
Ocorre então a tragédia. Apavorados e confundidos pela escuridão, os marinheiros acabam lançando ao mar a pesada caixa contendo a própria imagem da Virgem e seus ornamentos.


Qual terá sido a desolação de Dom Sancho, uma vez terminada a tormenta, ao verificar o fato irreparável. Porém, era também ele um homem de fé e nessa situação angustiante elevou fervorosas preces àquela que é a Mãe de Misericórdia. O mal estava feito e já não havia remédio senão explicar o ocorrido ao seu amigo, Dom João. Para não falar da pesada conta a ser resgatada.


Naquele tempo, a chegada de uma nau, avistada em alto mar, era notícia de grande importância. Não tardou Dom João a acorrer ao porto para aguardar que a São Fernando atracasse. Foi então que ouviu do angustiado Dom Sancho o relato da perda da imagem.

Inexplicável desembarque
Entretanto, para sua surpresa, Dom Sancho notou que o amigo permanecia inteiramente calmo, apesar da brusca e trágica notícia. Dom João disse-lhe então para não se preocupar, pois já havia conseguido a imagem tal qual desejava. Que partissem imediatamente para vê-la.
- Aqui na Venezuela? Mas se não tem quem a faça!, redargüiu Dom Sancho.
- É, mas consegui uma. Venha à minha fazenda e a verá, acrescentou Dom João.


Ele não quis contar, naquele momento, que dias antes fora chamado por seus empregados, que haviam encontrado na praia da fazenda uma caixa. Ao abri-la, depararam com uma magnífica imagem de Nossa Senhora da Soledade, com todos os seus ornamentos. Vendo que a imagem correspondia exatamente ao seu pedido, logo concluiu que se tratava de um portentoso milagre.


Mas desejando tirar a limpo o fato, nada disse ao deprimido capitão.
Este, ao chegar à fazenda, viu a imagem e ficou pasmo e admirado. Após observá-la atentamente comentou:
- Se não estivesse tão certo de ter lançado ao mar a imagem que eu trazia, diria que é esta, de tal modo se parece com ela.


Foi só neste momento que Dom João levou o amigo para uma sala ao lado, onde se encontravam a caixa em que estava a imagem, os vestidos e os galões de prata e ouro. Ao ver estes objetos, Dom Sancho certificou-se do grandioso milagre. A pesada imagem, lançada ao mar a muitos quilômetros de distância, chegara à fazenda no mesmo dia em que fora atirada à água.


O prodigioso acontecimento não tardou a ser conhecido em toda a colônia. E o traslado da imagem à Igreja de São Francisco, em Caracas, onde é venerada até nossos dias, marcou época.

Fonte: Catolicismo



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