segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Nossa Senhora de Nazaré



Era tarde de sol em Nazaré. Sol forte, ardente, de luz e calor incomuns.
As pessoas procuravam o frescor das casas, ainda que pequenas e não tão confortáveis; os animais juntavam-se sob as árvores de sombra generosa.

Na casa do carpinteiro José, Maria, junto à janela, tecia cantarolando. A seu lado, o Menino construía um reino com retalhos de madeira. O calor intenso impunha silêncio sobre a cidadezinha, mas também paz.

Ia tudo bem, até que alguém bateu à porta. Era um pobre bem mais pobre que eles: um filho da miséria e da dor, curvado de vergonha. Tinha uma cuia nas mãos e pedia um pouco de água fresca. Saciado, deixou-se ficar à soleira, a cuia ainda estendida. Não precisava que a enchessem de mais nada, apenas de atenção. E foi ficando, a contar sua história a José.

Não demorou para que duas pobres mulheres se aproximassem. Cuia vazia nas mãos, estavam com fome, daquelas fomes que dão tontura, que bambeiam as pernas. Maria se apressou em encher as cuias de comida nova e em boa medida. E elas também foram ficando para encher de novo a cuia de sua solidão.

Vieram depois umas crianças, cuia grande nas mãos pequenas. Queriam qualquer coisa que lhes pudessem dar. Até se fosse uma pedra, iriam fazer um jogo. Jesus também pequeno logo se prontificou a encher as cuias de alegria e saíram juntos para colher figos maduros.

E sem fazer muito barulho, foram chegando também alguns doentes: havia feridas e gemidos, muitas cuias vazias de tudo. A Mãe não se acanhou e veio com uma cuia cheia de água e outra cheia de ungüento perfumado, e foi tratando de cada um, consolando, animando. Esvaziavam-se as cuias e enchiam-se os corações.

Quem passasse por ali, pensaria que estava acontecendo uma festa. Quando Jesus pequeno voltou com as crianças, multiplicaram-se os figos nas cuias. Parece que desde cedo, o Filho de Maria gostava desse tipo de reunião, onde todos pudessem comer à vontade e se sentir acolhidos.

Caía a tarde, quando um vizinho trouxe leite fresco que espumou nas cuias das crianças e outro vizinho trouxe vinho doce que borbulhou na cuia dos homens.

Na casa de Nazaré, havia sempre muitas cuias, sempre prontas para quem chegasse e quisesse entrar. Na casa dos paraenses, filhos queridos da Senhora de Nazaré, todos sabem o que fazer com as cuias que chegam. E nenhuma cuia, por causa daquela Santa Família, fica vazia.

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